Tinha aquele passarinho.
Vivia naquela gaiola. Sempre. Ficava lá. Cuidava de sua vida, fazia suas coisas.
De vez em quando abriam a gaiola e davam comida e um pouco de água. O passarinho tentava voar em direção a mão que lhe alimentava, mas rapidamente ela se retirava e fechava novamente a gaiola.
O passarinho comia e bebia. Vistoso sempre com suas penas brilhantes. Dourado e preto.
Eu passava todo dia em frente aquela lojinha e via aquele passarinho. Não estava a venda, era de estimação do vendedor.
“Esse passarinho é meu. Não está a venda.” – dizia firme o vendedor.
Todo dia passava pela lojinha e o passarinho batia as asas com força de dentro da gaiola para voar. Curioso. Como se tentasse me dizer alguma coisa.
Um dia resolvi – “Hoje eu solto aquele passarinho, dane-se o dono! Aquele passarinho é muito belo para ficar preso!”
Passei em frente a loja e corri direto para a gaiola. O dono mal notou, estava atarefado demais arrumando as prateleiras da loja. Abri a gaiola e falei bem alto “Vai, voa rápido! Seja livre!” – o passarinho ficou imóvel lá dentro. O dono ouvindo minha voz correu para ver o que era e zangado fechou a gaiola – “Você tá doido menino?! Esse passarinho é MEU!”
Sem entender fiquei olhando o passarinho…ele me olhava com remorso. Sai da loja e segui sem entender.
Passo pela loja todos os dias, mas o passarinho sumiu e sua gaiola também.
De que vale o peso das palavras? De que vale as palavras quando não se tem nada a perder?
Palavras, apenas palavras.
Não valem de nada, palavras.
Você perdeu a esperança?